Encontro de catequistas - Textos de apoio

TEXTOS DE APOIO

1. DIRECTORIO GERAL DE CATEQUESE, Nº 255

A família como ambiente ou meio de crescimento na fé.

255. Os genitores são os primeiros educadores na fé. Juntamente com eles, sobretudo em certas culturas, todos os membros da família têm uma tarefa ativa, em vista da educação dos membros mais jovens. É necessário determinar mais concretamente em qual senso a comunidade cristã familiar é « lugar » de catequese.

A família foi definida como uma « Igreja doméstica »; (305) isto significa que em toda família cristã devem refletir-se os diferentes aspectos ou funções da vida da Igreja inteira: missão, catequese, testemunho, oração, etc... De fato, a família, da mesma forma que a Igreja, « é um espaço no qual o Evangelho é transmitido e do qual o Evangelho se irradia ». (306) A família como « lugar » de catequese tem uma prerrogativa única: transmite o Evangelho, radicando-o no contexto de profundos valores humanos. (307) Sobre esta base humana, é mais profunda a iniciação na vida cristã: o despertar para o senso de Deus, os primeiros passos na oração, a educação da consciência moral e a formação do senso cristão do amor humano, concebido como reflexo do amor de Deus Criador e Pai.

Em resumo: trata-se de uma educação cristã mais testemunhada do que ensinada, mais ocasional do que sistemática, mais permanente e cotidiana do que estruturada em períodos. Nesta catequese familiar torna-se sempre mais importante a contribuição dos avós. A sua sabedoria e o seu senso religioso, muitas vezes, são decisivos para favorecer um clima realmente cristão.

2. FAMILIA, TRANSMISSÃO E EDUCAÇÃO DA FÉ
“ A família é a primeira escola das virtudes sociais de que as sociedades têm necessidade… A família é a primeira, mas não a única e exclusiva comunidade educativa” ( João Paulo II, FC ns 36 e 40).

“A família, como a Igreja, tem por dever ser um espaço onde o Evangelho é transmitido e de onde o Evangelho irradia… Os pais não somente comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido” (Paulo VI, EN n.71).

1. O que entre nós era uma realidade há umas dezenas de anos, tornou-se hoje uma preocupação, muitas vezes sem grande eco nas pessoas mais responsáveis, dado o seu papel de interventores necessários num processo importante da vida. Trata-se da missão da família cristã no processo educativo dos filhos e na transmissão e educação da fé, assumida como dever e encargo. Trata-se, ainda, de a família assumir o seu lugar, como espaço de valores morais, de oração, reconciliação, abertura a projetos de vida e a compromissos apostólicos.

A sociedade mudou e, nela, o processo de mudança continua imparável. A família, parte viva da sociedade, também mudou, e a mudança afeta o relacionamento dos seus membros, a compreensão das suas tarefas, a ocupação e o trabalho fora de casa, a disponibilidade de tempo e de vontade para os serviços normais do seu dia a dia, o embate com leis civis que não a respeitam, antes a agridem, a dificuldade de reagir, de modo ativo e em rede organizada com outras famílias, à invasão opressora de ideias e de comportamentos que lhes são alheios. Sem deixarem de influir em todos, as mudanças tocam, de modo especial, os mais novos.

Deste modo, a família tem mais dificuldade em se encontrar como família, e, também, como família cristã, diminuindo, sempre mais, a sua capacidade para responder aos novos desafios que se lhe põem e para realizar as suas tarefas fundamentais. Se este processo não for contrariado, a família vai-se tornando, pouco a pouco, uma instituição frágil, desagregada e socialmente irrelevante.

2. A Igreja acredita no desígnio de Deus sobre a família, sabe o significado e o alcance do sacramento do Matrimónio, conhece e defende a importância da família em ordem à vida dos seus membros, o seu papel na sociedade e a sua missão na Igreja, considerando a instituição familiar como célula fundamental da sociedade, e a família cristã como uma “Igreja doméstica”. Em virtude desta fé e desta convicção, no contexto social e cultural atual, a Igreja olha a família com amor e atenção, luta pela sua defesa, empenha-se na reconstrução da sua identidade e verdade, ajuda-a a realizar, por meios diversos, as suas tarefas essenciais.

Uma destas tarefas da família, de importância decisiva para a sociedade e para a Igreja, é o dever irrenunciável dos pais da educação dos seus filhos em todos os aspetos e da transmissão da fé, não só no seu espaço próprio, mas até onde se pode estender a sua capacidade de intervenção.

A tarefa educativa, nos aspetos fundamentais, a família nunca a realizou sozinha. Por isso, não pode estar ausente onde ela se processa, seja nos espaços normais do lar, na escola e na comunidade cristã. Aí se deve sentir a sua colaboração efetiva, dada e aceite, com os muitos intermediários indispensáveis, professores e demais educadores de todos os níveis.

3. A educação da fé, iniciada no seio da família cristã, como abertura a Deus e primeira aprendizagem de palavras e gestos religiosos significativos, é continuada, depois, nos outros espaços de vida da criança que vai crescendo: o jardim de infância, a catequese paroquial, a escola dos diversos ciclos. Para muitas crianças, adolescentes e jovens, também se faz nos movimentos e grupos apostólicos de sentido eclesial. Aí se transmitem valores morais para a vida, se proporciona ocasião para o aprofundamento da fé, a abertura ao apostolado, a opção vocacional e o serviço aos outros, dimensão normal e indispensável da vida cristã.

4. Nesta Semana Nacional de Educação Cristã, queremos sublinhar a importância da ligação entre família e educação da fé. Sabemos que muitos pais continuam, neste campo, atentos e colaborantes, conscientes do seu dever de educadores principais dos seus filhos. Queremos apoiá-los e dizer-lhes quanto nos alegra este seu empenhamento, pedindo-lhes que não desistam nunca e que ajudem outros pais a agir de igual modo.

Não deixamos, porém, de estar atentos às famílias que continuam a dizer-se cristãs, mas que, conservando uma expressão religiosa tradicional, deixaram empobrecer a sua ligação a Deus e à Igreja, uma atitude que, em alguns a aspetos, acaba por atingir os seus filhos. Chegam agora à catequese crianças sem qualquer iniciação cristã, e sentem-se, a partir daí, omissões em ordem ao seu acompanhamento e ao cuidado da sua formação moral e religiosa nas escolas. Catequese na paróquia e aula de Educação Moral e Religiosa nas escolas são atos complementares, que não se substituem um ao outro. Não esquecemos que o dia a dia de muitas famílias é hoje complexo e difícil, por razão dos horários de trabalho e do trabalho longe de casa que proporcionam pouco tempo com os filhos, das exigências materiais, indispensáveis para ir ao encontro das necessidades familiares. Uma ordenação das prioridades, o aproveitamento dos fins de semana para a família, o recurso a outros membros da família, como os avós quando estão por perto, podem ajudar na educação e transmissão da fé. Os filhos que frequentam a catequese e as aulas de educação moral e religiosa podem ser também uma ocasião para que os pais reatem a vida cristã e se integrem na vida da Igreja.

5. O programa da catequese paroquial, ao longo de dez anos, e o do ensino religioso nas escolas ao longo de doze anos, precedidos ambos do despertar da fé no seio da família e no Jardim de Infância, não dispensam a participação possível dos pais no processo educativo, bem como a sua colaboração com os agentes diretos desta ação, catequistas, professores, educadores e animadores. Vamos agora dar uma atenção especial à catequese familiar, com a preocupação de apoiarmos os pais e os filhos nesta tarefa. Se falarmos, mais concretamente, do Ensino Religioso nas Escolas, o contexto atual exige mútua colaboração entre pais e professores de Educação Moral e Religiosa e a própria escola. Torna-se, então, mais exigente a atenção a prestar ao processo das matrículas, ao desenvolver do projeto educativo, à qualidade dos valores que nele se transmitem ou não, bem como às iniciativas complementares promovidas na escola.

Os filhos são a maior riqueza dos pais e a educação é o meio indispensável para os ajudar a crescer e a prepararem-se para uma vida feliz, como protagonistas responsáveis e participativos. O dever da presença e do estímulo no tempo da formação humana e religiosa dos filhos, é, para os pais, uma expressão de fidelidade ao amor que os gerou e os educa.

6. É fundamental que as necessidades educativas e espirituais das famílias sejam consideradas nos projetos pastorais das comunidades cristãs e nos projetos educativos das escolas, concretamente na perseverança e criatividade colocadas no acolhimento, no acompanhamento e nas oportunidades de formação oferecidas aos pais e outros familiares.

Saudamos, com alegria, todas as famílias e todos quantos, nas escolas e nas paróquias, se dão por inteiro à causa da educação.

Desejamos que esta Semana Nacional de Educação Cristã constitua um estímulo e um contributo para as famílias cristãs e para as comunidades educativas, paróquia e escola, de modo a que a catequese e o ensino religioso, com a colaboração necessária dos pais, dos catequistas e dos professores de Educação Moral e Religiosa, constituam um contributo valioso na formação humana e cristã das crianças e dos jovens.

Lisboa, 15 de setembro de 2011
Comissão Episcopal da Educação Cristã


3. BENTO XVI, SACRAMENTUM CARITATIS, 19

Iniciação, comunidade eclesial e família

19. É preciso ter sempre presente que toda a iniciação cristã é caminho de conversão que háde ser realizada com a ajuda de Deus e em constante referimento à comunidade eclesial, quer quando é o adulto que pede para entrar na Igreja, como acontece nos lugares de primeira evangelização e em muitas zonas secularizadas, quer quando são os pais a pedir os sacramentos para seus filhos. A este respeito, desejo chamar a atenção sobretudo para a relação entre iniciação cristã e família; na acção pastoral, sempre se deve associar a família cristã ao itinerário de iniciação. Receber o Baptismo, a Confirmação e abeirar-se pela primeira vez da Eucaristia são momentos decisivos não só para a pessoa que os recebe mas também para toda a sua família; esta deve ser sustentada, na sua tarefa educativa, pela comunidade eclesial em suas diversas componentes.(53) Quero sublinhar aqui a relevância da Primeira Comunhão; para inúmeros fiéis, este dia permanece, justamente, gravado na memória como o primeiro momento em que se percebeu, embora de forma ainda inicial, a importância do encontro pessoal com Jesus. A pastoral paroquial deve valorizar adequadamente esta ocasião tão significativa.

4. JPII, CATECHESI TRADENDAE , 67-68

Na paróquia


67. Quero evocar agora o enquadramento concreto onde agem habitualmente todos estes catequistas, voltando ainda, de maneira mais sintética, ao assunto dos «lugares» da catequese; alguns destes já foram evocados no capítulo IV: paróquia, família, escola e movimentos.

Se é verdade que em toda a parte se pode catequizar, quero no entanto realçar — em conformidade com o voto de grande número de Bispos — que a comunidade paroquial deve continuar a ser a animadora da catequese e o seu lugar privilegiado. É certo que, em muitas nações, a paróquia foi profundamente abalada pelo fenómeno da urbanização. Alguns chegaram mesmo a admitir com demasiada facilidade, que a paróquia estava ultrapassada, se não mesmo votada ao desaparecimento, em favor de pequenas comunidades mais adaptadas e mais eficazes. Quer se queira quer não, a paróquia continua a ser ponto de referência importante para o povo cristão, e até para os não praticantes. O realismo e a prudência exigem, pois, que se continue a dar-lhe de novo estruturas adequadas, conforme for preciso, e sobretudo novo impulso mediante a integração crescente de membros qualificados, responsáveis e generosos.

Dito isto, e tendo em conta a necessária diversidade dos lugares de catequese — a própria paróquia, as famílias que acolhem crianças e adolescentes, as aulas de religião nas escolas do Estado, as instituições escolares católicas, os movimentos de apostolado que mantêm tempos reservados à catequese, os centros abertos a todos os jovens, os «fins de semana» para formação espiritual, etc. — importa sobremaneira que todos estes canais catequéticos convirjam realmente para uma mesma confissão de fé, para uma comum consciência de pertencer à mesma Igreja e para uma fidelidade aos compromissos na sociedade, vividos com o mesmo espírito evangélico: «... um só Senhor, uma só fé, um só baptismo, um só Deus e Pai ...» (116).

É por isso que todas as paróquias importantes e todos os agrupamentos de paróquias numericamente mais reduzidas têm o grave dever de formar responsáveis, que se dediquem totalmente à animação da catequese: sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos; o dever de proverem ao que for necessário para uma catequese considerada sob todos os seus aspectos; o dever de multiplicarem e adaptarem os locais de catequese, na medida em que isso for possível e útil, e o de vigiarem pela qualidade da formação religiosa e pela integração dos diversos grupos no corpo eclesial.

Em resumo, sem monopolizar nem querer uniformizar, a paróquia, como se disse acima, continua a ser o lugar privilegiado da catequese. Precisa para isso de reencontrar a sua vocação neste aspecto, que é a de ser a casa de família, fraterna e acolhedora, onde os baptizados e confirmados tomam consciência de ser Povo de Deus e onde o pão da boa doutrina e o pão da Eucaristia lhes são repartidos com abundância, no quadro de um único acto de culto (117); é daí que são quotidianamente reenviados para a sua missão apostólica em todos os sectores da vida do mundo.

Na família

68. A acção catequética da família tem um carácter particular e, em certo sentido, insubstituível, justificadamente posto em evidência pela Igreja, de modo especial pelo Concílio Vaticano II (118). A educação para a fé, feita pelos pais — a começar desde a mais tenra idade das crianças (119) — já se realiza quando os membros de determinada família se ajudam uns aos outros a crescer na fé, graças ao próprio testemunho de vida cristã muitas vezes silencioso, mas perseverante, no desenrolar da vida de todos os dias, vivida segundo o Evangelho. Torna-se ainda mais marcante quando, ao ritmo dos acontecimentos familiares — como por exemplo a recepção dos Sacramentos, a celebração de grandes festas litúrgicas, o nascimento de um filho, um luto — se tem o cuidado de explicar em família o conteúdo cristão ou religioso de tais acontecimentos. Importa. porém, ir ainda mais longe: os pais cristãos hão-de esforçar-se por prosseguir e retomar no ambiente familiar, a formação mais metódica que é recebida noutras partes. Só o facto de determinadas verdades sobre os principais problemas da fé e da vida cristã serem retomadas num quadro familiar, impregnado de amor e de respeito, fará muitas vezes que elas marquem as crianças de maneira decisiva para toda a vida. E os próprios pais beneficiarão do esforço que isso lhes impõe, porque nesse diálogo catequético cada um recebe e dá alguma coisa.

A catequese familiar, portanto, precede, acompanha e enriquece todas as outras formas de catequese. Por outro lado, naquelas partes onde uma legislação anti-religiosa pretende impedir a educação para a fé, e onde a incredulidade difundida ou o secularismo avassalador tornam praticamente impossível um verdadeiro crescimento religioso, a família, essa «como que Igreja doméstica» (120), acaba por ser o único meio onde as crianças e os jovens poderão receber uma autêntica catequese. Sendo assim, nunca serão demais os esforços que fizerem os pais cristãos para se prepararem para este ministério de catequistas de seus próprios filhos e para o exercerem com zelo infatigável. Nesta linha é preciso encorajar também as pessoas ou instituições que, mediante contactos individuais, encontros, reuniões e recurso a toda a espécie de meios pedagógicos, ajudam os pais a cumprirem a sua missão: prestam à catequese um serviço inestimável.

5. EVANGELII NUNTIANDI 71

Família

No conjunto daquilo que é o apostolado evangelizador dos leigos, não se pode deixar de pôr em realce a ação evangelizadora da família. Nos diversos momentos da história da Igreja, ela mereceu bem a bela designação sancionada pelo Concílio Ecumênico Vaticano II: "Igreja doméstica".(106) Isso quer dizer que, em cada família cristã, deveriam encontrar-se os diversos aspectos da Igreja inteira. Por outras palavras, a família, como a Igreja, tem por dever ser um espaço onde o Evangelho é transmitido e donde o Evangelho irradia.

No seio de uma família que tem consciência desta missão, todos os membros da mesma família evangelizam e são evangelizados. Os pais, não somente comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido. E uma família assim torna-se evangelizadora de muitas outras famílias e do meio ambiente em que ela se insere. Mesmo as famílias surgidas de um matrimônio misto têm o dever de anunciar Cristo à prole, na plenitude das implicações do comum batismo; além disso, incumbe-lhes a tarefa que não é fácil, de se tornarem artífices da unidade.

6. FAMILIARIS CONSORTIO

O ministério de evangelização da família cristã

52. Na medida em que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé torna-se comunidade evangelizadora. Escutemos de novo Paulo VI: «A família, como a Igreja, deve ser um lugar onde se transmite o Evangelho e donde o Evangelho irradia. Portanto no interior de uma família consciente desta missão, todos os componentes evangelizam e são evangelizados. Os pais não só comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem também receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido. Uma tal família torna-se, então, evangelizadora de muitas outras famílias e do ambiente no qual está inserida»,
Como repetiu o Sínodo, retomando o meu apelo lançado em Puebla, a futura evangelização depende em grande parte da Igreja doméstica. Esta missão apostólica da família tem as suas raízes no baptismo e recebe da graça sacramental do matrimónio uma nova força para transmitir a fé, para santificar e transformar a sociedade actual segundo o desígnio de Deus.
A família cristã, sobretudo hoje, tem uma especial vocação para ser testemunha da aliança pascal de Cristo, mediante a irradiação constante da alegria do amor e da certeza da esperança, da qual deve tornar-se reflexo: «A família cristã proclama em alta voz as virtudes presentes do Reino de Deus e a esperança na vida bem-aventurada»,
A absoluta necessidade da catequese familiar surge com singular vigor em determinadas situações que infelizmente a Igreja experimenta em diversos lugares: «Onde uma legislação anti-religiosa pretende impedir até a educação na fé, onde uma incredulidade difundida ou um secularismo invasor tornam praticamente impossível um verdadeiro crescimento religioso, aquela que poderia ser chamada "Igreja doméstica" fica como único ambiente, no qual crianças e jovens podem receber uma autêntica catequese».

Um serviço eclesial

53. O ministério de evangelização dos pais cristãos é original e insubstituível: assume as conotações típicas da vida familiar, entrelaçada como deveria ser com o amor, com a simplicidade, com o sentido do concreto e com o testemunho do quotidiano.
A família deve formar os filhos para a vida, de modo que cada um realize plenamente o seu dever segundo a vocação recebida de Deus. De facto, a família que está aberta aos valores do transcendente, que serve os irmãos na alegria, que realiza com generosa fidelidade os seus deveres e tem consciência da sua participação quotidiana no mistério da Cruz gloriosa de Cristo, torna-se o primeiro e o melhor seminário da vocação à vida consagrada ao Reino de Deus.
O ministério de evangelização e de catequese dos pais deve acompanhar também a vida dos filhos nos anos da adolescência e da juventude, quando estes, como muitas vezes acontece, contestam ou mesmo rejeitam a fé cristã recebida nos primeiros anos da vida. Como na Igreja a obra de evangelização nunca se separa do sofrimento do apóstolo, assim na família cristã os pais devem enfrentar com coragem e com grande serenidade de animo as dificuldades que o seu ministério de evangelização algumas vezes encontra nos próprios filhos.
Não se deverá esquecer que o serviço dos cônjuges e pais cristãos a favor do Evangelho é essencialmente um serviço eclesial, isto é, reentra no contexto da Igreja inteira, qual comunidade evangelizada e evangelizadora. Enquanto radicado e derivado da única missão da Igreja e enquanto ordenado à edificação do único Corpo de Cristo, o ministério de evangelização e de catequese da Igreja doméstica deve permanecer em comunhão intima e deve harmonizar-se responsavelmente com todos os outros serviços de evangelização e de catequese presentes e operantes na comunidade eclesial, quer diocesana quer paroquial.

A oração familiar

59. A Igreja reza pela família cristã e educa-a a viver em generosa coerência com o dom e o dever sacerdotal, recebido de Cristo Sumo Sacerdote. Na realidade, o sacerdócio baptismal dos fiéis, vivido no matrimónio-sacramento, constitui para os cônjuges e para a família o fundamento de uma vocação e de uma missão sacerdotal, pela qual a própria existência quotidiana se transforma num «sacrifício espiritual agradável a Deus por meio de Jesus Cristo»: é o que acontece, não só com a celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos e com a oferenda de si mesmos à glória de Deus, mas também com a vida de oração, com o diálogo orante com o Pai por Jesus Cristo no Espírito Santo.

A oração familiar tem as suas características. É uma oração feita em comum, marido e mulher juntos, pais e filhos juntos. A comunhão na oração é, ao mesmo tempo, fruto e exigência daquela comunhão que é dada pelos sacramentos do baptismo e do matrimónio. Aos membros da família cristã podem aplicar-se de modo particular as palavras com que Cristo promete a sua presenca: «Digo-vos ainda: se dois de vós se unirem, na terra, para pedirem qualquer coisa, obtê-la-ão de Meu Pai que está nos Céus. Pois onde estiverem reunidos, em Meu nome, dois ou três, Eu estou no meio deles».

A oração familiar tem como conteúdo original a própria vida de família, que em todas as suas diversas fases é interpretada como vocação de Deus e actuada como resposta filial ao Seu apelo: alegrias e dores, esperanças e tristezas, nascimento e festas de anos, aniversários de núpcias dos pais, partidas, ausências e regressos, escolhas importantes e decisivas, a morte de pessoas queridas, etc., assinalam a intervenção do amor de Deus, na história da família, assim como devem marcar o momento favorável para a acção de graças, para a impetração, para o abandono confiante da família ao Pai comum que está nos céus. A dignidade e a responsabilidade da família cristã como Igreja doméstica só podem pois ser vividas com a ajuda incessante de Deus, que não faltará, se implorada com humildade e confiança na oração.

Educadores de oração

60. Em virtude da sua dignidade e missão, os pais cristãos têm o dever específico de educar os filhos para a oração, de os introduzir na descoberta progressiva do mistério de Deus e no colóquio pessoal com Ele: «É sobretudo na família cristã, ornada da graça e do dever do sacramento do matrimónio, que devem ser ensinados os filhos desde os primeiros anos, segundo a fé recebida no Baptismo, a conhecer e a adorar Deus e amar o próximo».

Elemento fundamental e insubstituível da educação para a oração é o exemplo concreto, o testemunho vivo dos pais: só rezando em conjunto com os filhos, o pai e a mãe, enquanto cumprem o próprio sacerdócio real, entram na profundidade do coração dos filhos, deixando marcas que os acontecimentos futuros da vida não conseguirão fazer desaparecer. Tornemos a escutar o apelo que o Papa Paulo VI dirigiu aos pais: «Mães, ensinais aos vossos filhos as orações do cristão? Em consonancia com os Sacerdotes, preparais os vossos filhos para os sacramentos da primeira idade: confissão, comunhão, crisma? Habituai-los, quando enfermos, a pensar em Cristo que sofre? a invocar o auxílio de Nossa Senhora e dos Santos? Rezais o terço em família? E vós, Pais, sabeis rezar com os vossos filhos, com toda a comunidàde doméstica, pelo menos algumas vezes? O vosso exemplo, na rectidão do pensamento e da acção, sufragada com alguma oração comum, tem o valor de uma lição de vida, tem o valor de um acto de culto de mérito particular; levais assim a paz às paredes domésticas: "Pax huic domui!". Recordai: deste modo construís a Igreja!».

Oração litúrgica e privada

61. Entre a oração da Igreja e a de cada um dos fiéis há uma profunda e vital relação, como reafirmou claramente o Concílio Vaticano II.

Ora uma finalidade importante da oração da Igreja doméstica é a de constituir, para os filhos, a introdução natural à oração litúrgica própria da Igreja inteira, no sentido quer de uma preparação para ela, quer de a alargar ao âmbito da vida pessoal, familiar e social. Daqui a necessidade de uma participação progressiva de todos os membros da família cristã na Eucaristia, sobretudo na dominical e festiva, e nos outros sacramentos, em particular nos da iniciação cristã dos filhos. As directivas conciliares abriram uma nova possibilidade à família cristã, que foi incluída entre os grupos aos quais se recomenda a celebração comunitária do Ofício divino. Assim também está ao cuidado da família cristã celebrar, mesmo em casa e de forma adaptada aos seus membros, os tempos e as festividades do ano litúrgico.

Para preparar e prolongar em casa o culto celebrado na Igreja, a família cristã recorre à oração privada, que se apresenta sob uma grande variedade de formas: esta variedade, enquanto testemunho da riqueza extraordinária com a qual o Espírito anima a oração cristã, responde às diversas exigências e situações da vida de quem se volta para o Senhor. Além das orações da manhã e da tarde são de aconselhar expressamente - seguindo também indicações dos Padres Sinodais - a leitura e a meditação da Palavra de Deus, a preparação para a recepção dos sacramentos, a de voção e consagração ao Coração de Jesus, as várias formas de culto à Santíssima Virgem, a bênsão da mesa, as práticas de piedade popular.

No respeito pela liberdade dos filhos de Deus, a Igreja propôs e continua a sugerir aos fiéis algumas práticas de piedade com solicitude e insistência particulares. Entre estas é de lembrar a recitação do Rosário: «Queremos agora, em continuidade de pensamento com os nossos Predecessores, recomendar vivamente a recitação do Santo Rosário em família... Não há dúvida de que o Rosário da bem-aventurada Virgem Maria deve ser considerado uma das mais excelentes e eficazes orações em comum, que a família cristã é convidada a recitar Dá-nos gosto pensar e desejamos vivamente que, quando o encontro familiar se transforma em tempo de oração, seja o Rosário a sua expressão frequente e preferida», Desta maneira a autêntica devoção mariana, que se exprime no vínculo sincero e na generosa série das posições espirituais da Virgem Santíssima, constitui um instrumento privilegiado para alimentar a comunhão de amor da família e para desenvolver a espiritualidade conjugal e familiar. Ela, a Mãe de Cristo e da Igreja, é também, de facto, de forma especial, a Mãe das famílias cristãs, das Igrejas domésticas.

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