TESTEMUNHO DE VIDA FAMILIAR

Nós somos a Sónia e o Aurélio. Estamos casados há 15 anos. Temos duas filhas, a Marta e a Sara de 11 e 9 anos, respetivamente.

É com enorme honra que estamos aqui na presença de todos vós e do Sr. Bispo D. António Marto, a partilhar o nosso desafio de viver em família e dar o nosso testemunho.

Vivemos uma experiência de família algumas vezes contraditória, uma vez que envolvidos na pressão social dos nossos dias, damos conta que vivemos do trabalho e para o trabalho.

Ambos temos situações profissionais muito exigentes. O Aurélio trabalha em Lisboa e está muito tempo ausente. Com muitas responsabilidades e, sem horário de trabalho, delega em mim as tarefas da vida familiar e da educação dos filhos. Eu trabalho em Leiria, cerca de 8 horas por dia num escritório de consultadoria económica e financeira. É um trabalho desgastante mentalmente, onde todas as contas têm que dar o mesmo, onde existem prazos para cumprir, e onde no dia-a-dia temos que ser mais rentáveis que ontem, sob pena de alguém nos ocupar o lugar. Ao fim do dia, e depois de ir buscar as meninas ao Colégio e levá-las à academia de ballet, vou para um pequeno negócio do setor alimentar (talho) que tenho juntamente com o meu irmão. Aqui as tarefas são ainda mais complicadas: para além da enorme crise que vivemos, temos que combater com os grandes grupos, onde, por vezes, parecem oferecer tudo o que nós vendemos. Às 9 horas costumo ir buscar as meninas à escola de ballet. Chegamos a casa todos os dias bastante tarde. Nunca ligamos a televisão nem nada que nos distraia do nosso objetivo: deitar-se o mais cedo possível. Há dias em que ainda há trabalhos de casa para terminar e matérias para estudar. É uma missão quase impossível.

Quando o Aurélio chega já está tudo tranquilo. De manhã sai cedo, ainda as meninas estão deitadas. Esta vivência repete-se semana após semana, de segunda a sábado.

No Domingo é diferente. Conseguimos guardá-lo para nós, para a vivência em família e comunidade. É também ao Domingo que vamos visitar os nossos pais.

Começámos por descobrir o Domingo com a missa dominical. Aí sentimos uma certa paz, tranquilidade, descanso e deparamo-nos que nos encontramos os quatro em família. Sem nunca termos dito nada, as nossas filhas dão-nos as mãos quando rezamos o Pai-nosso. Quase sempre na homilia ouvimos as respostas às nossas inquietações do momento, quase por magia. Quando saímos, saímos muito mais enriquecidos, cheios de força para enfrentar as dificuldades.

Aliás, pensamos que foi esta autenticidade e simplicidade que transpareceu para a nossa comunidade paroquial. De repente, sem ninguém nos conhecer, somos convidados para fazer parte desta comunidade de uma forma mais ativa.

Também sem sabermos muito bem porquê, aceitamos todos estes desafios: atualmente fazemos parte da Pastoral Familiar, de uma equipa de CPM, da equipa de preparação dos Batismos, e a Sónia ainda dá catequese.

Certamente estão todos a pensar: coitados. No entanto, constatamos que esta integração na vida paroquial tem-nos vindo a enriquecer como casal e como família, alargando-nos horizontes e impedindo de nos fecharmos em nós próprios e nas nossas conquistas materiais. Tem sido uma ajuda preciosa na valorização daquilo que realmente é importante e essencial, desvalorizando toda e qualquer bisbilhotice. Por outro lado sentimos que com todas as limitações que temos, com a falta de tempo, conseguimos fazer parte de um projeto de comunidade e de sociedade em que acreditamos, e que para o bem de todos, tem que ser valorizado e reconquistado.

Por outro lado, toda esta envolvência tem-nos facilitado na educação das nossas filhas, pelo nosso exemplo de simplicidade e de verdade. Sentimos que têm orgulho em nós e que dizem com alegria que o pai não pode ir aqui ou acolá, porque tem uma reunião de CPM.

No entanto, sabemos que estão a entrar na fase da adolescência. E aqui temos alguns receios. Ainda esta semana uma professora nos dizia que não sabia como nos dias de hoje conseguíamos dar a educação que damos. Uma educação fora de moda e antiquada. E enumerava: “As vossas filhas ainda vão à missa, não vêm televisão, não têm facebook, não usam telemóvel, só agora com 11 anos fizeram o primeiro furo nas orelhas…”

Todos sabemos que o modelo de sociedade e de família que existe hoje difere muito do modelo que existia quando nós éramos pequenos: todos nós crescemos numa família em que havia uma prática e uma comunidade religiosa espontânea. A fé passava de pais para filhos com naturalidade. O facto de ir à missa ao domingo era um dado adquirido. Hoje em dia é encarado por muitos como uma prática festiva e de ocasiões especiais.

Deparamo-nos então com algumas questões:

- Na sociedade contemporânea, o que nos impede de assumir com autenticidade e simplicidade os ensinamentos de Jesus?
- Como convencer os adolescentes que o essencial é invisível aos olhos, quando todos os seus amigos exibem telemóveis de ultima geração, tablets e roupas de marca?

NOTA: Este testemunho foi apresentado no encontro de casais com o senhor bispo, D. António Marto, no dia 2 de Março, no âmbito da visita pastoral à paróquia de Leiria.

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